Fossem outros os tempos, os homens e os costumes talvez não estivéssemos ainda discutindo pautas que mantêm o país dividido, amargurado, cheio de desejos de vingança e, também, enfraquecendo economicamente dia após dia.
A tensão contínua entre os extremos da atividade política nunca resultou em benefícios para a população. A corda estica, esgarça e, por fim quebra. E os prejuízos no curto, médio e longos prazos acabam por atingir a todos, indistintamente. É o que vivemos em nosso país nos dias de hoje.
Não é por outro motivo, portanto, a não ser o de colaborar com um grãozinho de bom senso e daqui deste modesto espaço, que escrevo este texto: para que o Brasil se reencontre com os valores estruturantes da república e do humanismo, dentre os quais destaco aqueles que dizem respeito ao alcance da paz social, que se encontra, por sua vez, nas garantias de liberdade, de igualdade e de fraternidade para todos nós.
Nada de bom, meus amigos, e isso vale tanto para o âmbito de nossas relações pessoais quanto para o espectro da vida em sociedade, pode resultar de um clima de animosidade permanente. Só mais destruição, infelicidade e sofrimentos. A hora de cada um vai chegar, mesmo de quem se acha momentaneamente vitorioso. Nada como um dia depois do outro…
Ao invés de agirmos como o general gaulês Breno, que tomou Roma e tripudiou sobre os vencidos, para logo depois ser decapitado por aqueles que subjugou, precisamos agir, desarmados de espírito, como ensinou o mestre Jesus, perdoando e orando por aqueles que, eventualmente são ou nos parecem ser nossos inimigos, pois somente a força do amor é devastadoramente capaz de combater o ódio e de construir um futuro de harmonia, de esperança e de prosperidade geral.
Daí a razão do apelo, até por questões de inteligência política, por reconciliação, união e paz em nosso país, com a anistia ampla, geral e irrestrita aos envolvidos no episódio de 08 de janeiro de 2023. O presidente Lula, penso, nesse momento de queda de aprovação popular, só teria a ganhar se encampasse a defesa desse tema.
Esse passo é essencial para normalizar e pacificar o país. Meus amigos, até o presidente João Baptista de Figueiredo, o último general do regime instaurado em 1964, teve a grandeza de assinar a lei da anistia para aqueles que combateram, de forma heróica e armada os anos de chumbo…Por que, então, agora, deveríamos manter presas pessoas comuns, velhinhas, inclusive, que sem nenhuma articulação política ou armamentos, como já reconheceu o ministro da Defesa do atual governo José Múcio, não estavam a promover um “golpe”, movimento que, de tão frágil, foi rapidamente debelado? Não se justifica.
De tal sorte e para finalizar, para “não dizer que não falei das flores”, apelo ao Conselho Federal da OAB, presidido pelo amigo amazonense Beto Simonetti, à Associação Brasileira de Imprensa, entidades que estiveram à frente das lutas pela restauração da justiça e das liberdades públicas em tempos de trevas, que usem de sua força nessa quadra tão importante para os destinos de nosso país e defendam a tese da anistia, como também da liberdade de expressão.
Apelo ao Congresso Nacional, ao Judiciário, a todas entidade e pessoas, enfim, que queiram o melhor para o Brasil, para que hasteiem, com os corações abertos e generosos essa bandeira da conciliação: anistia já! O Brasil não pertence a grupos. O exercício do poder é provisório, por excelência. Os radicalismos não podem prosperar.
A razão sempre está e esteve no centro. Só o equilíbrio pode nos robustecer e fazer frutificar tudo o que é bom, belo e justo. Pior do que um mau perdedor, é um mau vencedor. Sejamos altivos e resilientes nas derrotas, mas, sobretudo, sejamos dignos e misericordiosos na vitória.