A galeria leva obras dos amazonenses Dhiani Pa’saro, Duhigó e Paulo Desana para uma das maiores feiras de arte contemporânea da Europa
A Manaus Amazônia Galeria de Arte será a primeira galeria da Amazônia a participar da ARCOmadrid, a principal feira de arte contemporânea da Espanha, que acontece de 5 a 9 de março de 2025, em Madrid. A galeria levará obras dos artistas Paulo Desana, Duhigó e Dhiani Pa’saro, apresentando uma narrativa de resistência e posicionamento da cultura indígena amazônica no mundo.
Em sua 44ª edição, a ARCOmadrid 2025 tem a Amazônia como foco e conta com a participação de mais de 200 galerias. Os artistas representados pela Galeria foram selecionados para o setor da ARCOmadrid denominado “Wametisé: ideas for an Amazofuturism” (Wamatisé: ideias para um Amazonfuturismo) com a curadoria do artista visual amazonense Denilson Baniwa e María Wills, em colaboração com o Institute for Postnatural Studies. E o objetivo do espaço que reúne 28 artistas curados é refletir “sobre novos modos de criação que representam existências híbridas entre corpos humanos, vegetais, físicos e metafísicos”, cita a apresentação da feira.
O texto curatorial apresenta “Wametisé” como um conceito da cosmogonia dos povos do Alto Rio Negro, relacionado à criação do mundo e à nomeação dos territórios humanos. Propondo um diálogo entre cosmologias indígenas e novos modos de criação. O texto curatorial sugere que a crescente presença de artistas indígenas e amazônicos no mundo da arte reflete uma nova “nomeação” dos espaços criativos.

As obras expostas pela Manaus Amazônia Galeria dialogam diretamente com essa proposta, explorando esse futuro a partir das raízes amazônicas, trazendo narrativas que rompem com a visão tradicional e propõem novas formas de existir e criar.
“Participar da ARCOmadrid 2025 é mais do que uma conquista para a Manaus Amazônia Galeria de Arte – é um grande passo para expandir as vozes da Amazônia no cenário global por meio da arte visual de nossos artistas. Essa exposição não apenas apresenta a potência criativa dos nossos artistas, mas também propõe novas formas de enxergar o mundo, inspiradas nas cosmologias indígenas”, afirmou o fundador da Manaus Amazônia Galeria, Carlysson Sena.
Segundo o texto curatorial, de autoria dos curadores da exposição, incluindo o artista visual amazonense consagrado nacional e internacionalmente Denilson Baniwa, o Amazofuturismo, no contexto da ARCOmadrid, propõe uma nova forma de entender a relação entre arte, natureza e identidade, integrando saberes indígenas e práticas contemporâneas para imaginar futuros coletivos. Em vez de tratar a Amazônia como um recurso a ser explorado, essa abordagem a reconhece como uma entidade viva, cuja preservação depende do respeito aos povos originários e à sua visão de mundo.
“As obras que integrarão esta seção apresentarão novas possibilidades de perceber o mundo, inspiradas nas formas de vida passadas e atuais da Amazônia, onde a identidade é construída a partir da ligação entre seres que propõem um futuro coletivo com narrativas curativas”, aponta o texto.
Obras e artistas

Dhiani Pa’saro, do povo Wanano, apresenta as marchetarias: “Movimento Infinito II”, inspirada no grafismo Wanano, utilizado nos grandes balaios que servem para armazenar mandioca descascada ou massa de mandioca peneirada; “Osso de Jandiá II”, que representa um grafismo Baniwa conhecido como “osso de jandiá”, inspirado em um peixe de água doce liso, utilizado na confecção de balaios e urutus feitos de arumã e verniz natural; e “Stu”, cujo nome, que significa “pote” na língua Wanano, retrata um pote visto de cima, usado pelos Wanano para guardar a bebida sagrada Ayahuasca, feita a partir de dois cipós.
O artista participou de importantes exposições ao longo de sua carreira, como em 2022, quando sua obra “Arara Azul”, realizada em marchetaria e com 80 cm de diâmetro, foi incorporada ao acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, a obra “Sûophoka” foi exposta na mostra “Histórias Indígenas”, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), e depois foi incorporada ao acervo do Museu.
As obras da artista Duhigó, do povo Tukano, para a ARCOmadrid revisitam suas memórias pessoais e ancestrais, destacando a relação de identidade, comunidade e território. A obra “Memória dos carapanãs – Mũtenam”, representa uma memória da infância da artista que viajando pelo igarapé Omari com os parentes foi acolhida pelo casal de curandeiros moradores da floresta. Já a peça “Cocar dos Tuyucas”, apresenta um cocar que faz parte da memória afetiva da infância da artista, do contato dos Tukano com os Tuyucas. E a obra “Maloka Tukano” retrata a ancestralidade do povo Tukano, através de quatro parentes da artista, representados com seus ornamentos próprios e grafismos corporais que os identificam como pajé, cacique e aprendizes da aldeia. Os personagens retratados olham para quem os observa como quem olha o futuro que os aguarda.
Duhigó tem uma trajetória marcante, com diversas exposições no Brasil e no exterior. Em 2021, sua obra Nepũ Arquepũ foi incorporada ao acervo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), se tornando a primeira artista indígena do Amazonas a fazer parte do acervo do maior museu da América Latina. No mesmo ano, participou da exposição “Histórias Brasileiras” no MASP, com a obra “Autorretrato de Duhigó”, que também foi doado ao museu ao final da mostra. Reconhecida com o prêmio nacional Funarte “Mestras e Mestres das Artes 2023”, Duhigó teve suas obras expostas no Pavilhão da Bolívia na Bienal de Veneza de 2024, o mais tradicional e importante evento de artes visuais do mundo.
O artista Paulo Desana, da etnia Desana, terá três fotografias da sua coleção “Pamürɨmasa”, cujo nome significa “Espíritos da Transformação” na língua Tukano. São elas: “Espirito da transformação – Madalena Fontes Olimpio”, “Espirito da transformação – Larissa Ye’padiho Mota Duarte” e “Espirito da transformação – Gilda Da Silva Barreto”. Inspirada na mitologia dos povos indígenas de São Gabriel da Cachoeira, na região do Rio Negro, a coleção se baseia no mito da Cobra Canoa, ou “canoa da transformação”, que narra a origem da humanidade no ventre da grande serpente, dando início às comunidades ao longo do rio Negro.
Natural de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, assim como Duhigó e Dhiani Pa’saro, Paulo Desana é uma referência em fotografia, direção, artes visuais e produção. Atualmente, é um dos diretores de fotografia do documentário “Parque das Tribos – Muitos povos, uma só nação”, com previsão de finalização em outubro de 2024. Em 2023, foi destaque na Bienal das Amazonias, em Belém, Pará.
Sobre a ARCOmadrid
A ARCOmadrid, Feira Internacional de Arte Contemporânea de Espanha, é uma das principais plataformas do mercado de arte contemporânea. Em sua 44ª edição, a feira tem a Amazônia como foco, no setor “Wametise: Ideas for an Amazofuturism”. Além disso, a feira apresenta novas galerias e fortalece sua relação com a arte latino-americana com as seções curatoriais “Opening. Novas galerias” e “Perfis | Arte Latino-americana”.
Mais informações estão disponíveis no link: https://www.ifema.es/pt/arco/madrid/galerias
*Da Manaus Amazônia Galeria de Arte