Política

Discurso de Lula ignora trajetória de Gleisi e municia oposição

Presidente do PT de 2017 a 2025 e ministra da Casa Civil do governo Dilma Roussef, Gleisi Hoffmann pode ser elogiada ou criticada

Não é a primeira vez que os improvisos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ofuscam eventos oficiais. Tampouco é inédito que falas depreciativas sobre mulheres sejam tratadas como “escorregões” por aliados e lamentadas nos bastidores por auxiliares. Pedidos públicos de desculpas do próprio Lula, entretanto, nunca ocorreram.

Ao dizer nesta quarta-feira (12) que escolheu uma “mulher bonita” para o ministério da Relações Institucionais porque quer mais proximidade com o Congresso, Lula despreza como homem a trajetória política e minimiza a capacidade de trabalho de Gleisi Hoffmann.

Como político, entrega ainda mais munição para os detratores da ministra recém-empossada, que, por vezes, também a atacam com insinuações machistas.

Presidente do PT de 2017 a 2025 e ministra da Casa Civil do governo Dilma Roussef, Gleisi Hoffmann pode ser elogiada ou criticada.

Pode-se apoiar ou criticar sua habilidade para articulação, seu estilo combativo e sua ideologia. Tudo isso está dentro do jogo político e democrático. Já reduzir o papel da aliada em uma frase sobre “beleza” é machismo.

Há dois dias, a tesoureira do PT, Gleide Andrade, publicou no site do partido o artigo: “O machismo na sociedade e na política” em defesa da colega Gleisi Hoffmann.

O texto destaca que “a visão de mundo atrasada e machista está também na raiz de boa parte das críticas” à nova ministra das Relações Institucionais.

São seis parágrafos, com citações ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), também autor de frases machistas e fala que a direita tenta impor a “submissão e apagamento” das mulheres.

“Por ignorância ou preconceito (às vezes ambos) repetem chavões que se ouviram quando Lula a indicou para presidir o PT, em 2017. Omitem o sucesso de Gleisi ao manter o partido unido em seu momento mais difícil: pós-golpe, em plena farsa da Lava Jato e da prisão ilegal de Lula. Tentam apagar sua competência na articulação política da campanha presidencial de 2022, quando construiu uma coligação de 12 partidos e ampliou a frente democrática no segundo turno”, escreveu Gleide Andrade.

Ao justificar que colocou “essa mulher bonita para ser ministra de Relações Institucionais” para não ter mais distância com o Congresso, Lula se iguala aos alvos da crítica da esquerda.

E não foi a primeira vez. Durante ato pela democracia no 8 de Janeiro, o presidente disse que maridos amam mais as amantes do que as próprias mulheres.

“Não sou nem marido, eu sou um amante da democracia. Porque a maioria das vezes os amantes são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres. Eu sou um amante da democracia”, disse.

Ao anunciar medidas para amparar as vítimas da tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, em maio do ano passado, Lula declarou que “uma máquina de lavar roupa é uma coisa muito importante para as mulheres.”

E teve ainda a vez em que disse ser “inacreditável” que o a violência contra mulheres aumenta após jogos de futebol, com o seguinte complemento: “Se o cara é corintiano, tudo bem”.

Em um país que 37,5% das mulheres sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses, segundo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o tema não pode ser tratado como piada de mau-gosto pelo próprio presidente.

O novo mininistro da Secretaria Especial da Comunicação (Secom), Sidônio Palmeira, faz um esforço de marketing para reverter o desgaste e aumentar a percepção da população sobre os feitos da gestão petista.

O presidente enfrenta a maior reprovação em seus três mandatos. Não à toa, o eleitorado feminino que tanto o ajudou a garantir o retorno ao Palácio do Planalto, dá sinais de distanciamento.

A avaliação positiva do governo entre mulheres, que costuma ser mais favorável a Lula, caiu 14 pontos percentuais e, agora, empata numericamente com a dos homens, segundo pesquisa Datafolha divulgada em fevereiro.

*Análise de Jussara Soares, da CNN Brasil

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