Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, alerta para os riscos da expansão internacional de organizações como o PCC e o Comando Vermelho
As facções criminosas brasileiras estão aumentando cada vez mais suas operações internacionais, criando fortes parcerias com grupos guerrilheiros sul-americanos e também com máfias europeias.
Isso fortalece todos esses grupos, aumenta a violência e prejudica inclusive o combate às mudanças climáticas, pelo aumento da presença de criminosos na Amazônia.
O alerta foi feito nesta quinta-feira (12) pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), uma das mais respeitadas entidades do mundo no estudo de guerras e conflitos armados.
“A relevância global do conflito armado (entre as forças de segurança do Estado e o crime organizado) no Brasil está aumentando. As atividades (das facções criminosas) no Brasil, que antes eram limitadas a áreas urbanas e ao mercado doméstico, estão se expandindo internacionalmente. E as prósperas economias criminosas na Amazônia também estão minando os esforços de mitigação do clima, com repercussões negativas (inclusive) para a segurança climática global”,
afirmou o instituto em seu documento “Pesquisa de Conflitos Armados – 2024” – o mais completo levantamento sobre guerras e conflitos armados do mundo.
A posição do Brasil como uma importante rota do tráfico para mercados importantes como os dos Estados Unidos e da Europa dá peso às facções para estabelecer parcerias em vários países.
“O Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho continuam expandindo suas operações nacionais e internacionais à medida que o Brasil se torna um país de trânsito cada vez mais importante para o tráfico de cocaína da América do Sul para a Europa, África e Ásia”,
apontou o estudo.
“As organizações criminosas brasileiras têm laços comerciais com os grupos armados não governamentais colombianos, especialmente o Exército de Libertação Nacional (ELN) e os dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), para comprar cocaína e maconha e transportá-las pela floresta amazônica. Eles também criaram conexões com organizações do tipo máfia europeia”,
afirma o IISS.
Segundo o estudo, o maior poder das organizações nos últimos tempos se deve a uma presença cada vez maior em portos internacionais e outras estruturas de transporte, por onde escoam as drogas.
“As organizações criminosas do Brasil se internacionalizaram rapidamente nos últimos anos para atender à crescente demanda intercontinental por drogas – especialmente cocaína. Grupos como o PCC mantêm uma presença internacional com alianças importantes na Ásia, Europa e América Latina. Como em outros países da América Latina, a chave para a estratégia de internacionalização das organizações criminosas tem sido o controle de portos e outras ligações de transporte’,
diz o documento.
O instituto não prevê mudanças significativas no combate ao crime organizado no país e chega a afirmar que o Brasil “continua preso em um conflito armado envolvendo diversas organizações criminosas proeminentes”.
O IISS criticou ainda a falta de mudanças significativas nas políticas de segurança no país e sugeriu que a recente queda no número de homicídios se deve mais a uma diminuição na guerra entre as gangues do que às atividades das forças de segurança.
“Apesar de uma ligeira redução, o número de homicídios em 2023 permaneceu muito alto em 39.500 casos. Significativamente, a mudança política representada pela eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 não se traduziu na busca de uma estratégia de segurança que difere substancialmente daquelas dos presidentes anteriores.
Lula preservou uma política de segurança militarizada, destacando os militares para portos e aeroportos em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo – uma abordagem que não levou a nenhum progresso significativo. Além disso, o modesto declínio nos números de homicídios pode ser devido ao surgimento de uma “pax mafiosa”, em oposição ao sucesso da política de segurança”, afirmou o relatório.
*Com informações da CNN Brasil